Pedófilos assediam adolescentes e crianças por meio dos chats e sites de relacionamento, impondo mais atenção dos pais
Mal entrou em uma sala de bate-papo de um dos provedores mais acessados no país, Aninha12" passou a ser abordada insistentemente por diversos usuários para uma conversa privada. Dizendo ter 12 anos, ela foi assediada por rapazes de várias idades. Todos maiores de 18 anos. "Aninha12" não existe de verdade. Foi apenas um perfil criado pelo jornal HOJE EM DIA para mostrar que pedófilos aproveitam a facilidade da rede virtual para abordarem suas vítimas.
Em Minas, de maio a janeiro deste ano, a Delegacia Institucional da Polícia Federal (PF), responsável por investigar crimes previstos em acordos internacionais, recebeu 12 denúncias de pedofilia pela Internet.
Os anos de 2008 e 2009 empataram em 23 casos, ainda sob investigação, envolvendo suspeitos que postaram fotos e vídeos de pornografia infantil a partir do território mineiro, distribuindo o material para outros países. "A investigação dura, em média, um ano, pois depende da Justiça para quebra de sigilo telefônico e do provedor onde foi feita a postagem", observa o delegado Gumercindo Nunes Horta.
Ao contrário do que muitos pensam, as salas de bate-papo não estão ultrapassadas e são as preferidas para a ação dos pedófilos. A pedofilia pela Internet, com a distribuição de material pornográfico e aliciamento de menores, é a terceira contravenção mais denunciada na Promotoria de Crimes Cibernéticos de Minas Gerais. "Perde apenas para o estelionato e crimes contra a ordem", diz a promotora Vanessa Fusco.
Por acreditarem que não serão descobertos, estes criminosos conquistam a confiança da criança e do adolescente e, depois, conseguem com que a vítima faça fotos e vídeos pornográficos. A pena para quem distribui este material varia de três a seis anos de cadeia. "E se estiver somente de posse do material será preso e poderá ser condenado de um a quatro anos de prisão", salienta Gumercindo.
Se estes criminosos acreditam que não serão descobertos, Vanessa Fusco avisa: as técnicas empregadas hoje e o treinamento da equipe envolvida na investigação destes casos permitem o rastreamento. "Não tem mais essa de que ficará escondido atrás do computador", enfatiza, sem divulgar a estatística de prisões em Minas. A grande dificuldade das autoridades está na ausência de leis que obrigue as lan houses a registrar os seus clientes. Na capital, uma lei deste tipo será publicada hoje no Diário Oficial do Município.
Embora a maior parte dos casos de pedofilia aconteçam por várias circunstâncias o psiquiatra Geraldo José Ballone destaca outro território onde esses criminosos estão se adequando dia a dia - contando ainda com o benefício do anonimato: a Internet.
"O mundo virtual representa a população geral, com todos os seus defeitos e qualidades. Mas o usuário está distante e imune de uma represália jurídica, e de fato se sente protegido. Sabe-se que muitas crianças varam a noite na Internet nas salas de bate papo adultos. Nesses locais, elas sentem-se valorizadas e raramente distinguem a investida de um elogio. Se eu pudesse aconselhar os pais seria enfático: ?quanto mais tarde seu filho usar a Internet, melhor?".
Para o psicoterapeuta André de Barros uma boa alternativa é instalar os computadores sempre nas áreas comuns da casa - onde todos possam acompanhar a navegação. "Uma das perguntas mais frequentes feitas pelos pedófilos é se a criança está sozinha. ", alerta. Ballone afirma que mesmo que o indivíduo não tenha executado ato sexual com uma criança, o simples diálogo valendo-se de pornografia ou erotismo exacerbado é considerado como atitude pedófila. "Algumas crianças acabam se tornando um alvo mais procurado por causa das roupas, adereços ou atitudes de comportamento precoce", diz. (Com Clarissa Carvalhaes)
Perfil falso "Aninha12? faz sucesso online
São pouco mais de 10 horas e na sala de bate-papo um homem se apresenta como "Pai Carinhoso CAM". Na verdade, ele é apenas um dos muitos usuários que frequentam os chats pela manhã. Do trabalho ou de casa, o assunto não oscila muito e o vai e vem da conversa sempre acaba no mesmo assunto: sexo, pornografia e erotismo. A sala onde estive era destinada a pessoas com idade entre 15 e 20 anos, embora a assiduidade e diálogos não fosse condizente com a teoria.
Foram cerca de seis horas de permanência no chat entre os dias 9 e 10 de junho, e a todo momento, uma proposta, uma investida ou um convite. Depois de descobrir a idade dos meus apelidos (aninha12 e menininha12) a pergunta seguinte era enfática e sempre a mesma: "Você está sozinha?". Se dissesse não, a conversa, sem exceção, acabava ali. Mas quando a resposta era positiva, o papo esquentava. "Você já beijou?" ou "O que é ficar pra você?", seguiram-se de "Você ficaria com um homem mais velho?" e "Eu gosto de novinhas".
Entre as conversas mais intrigantes está a de "Pai Carinhoso CAM (câmera)", um homem de 35 anos aparentemente gentil, casado e com dois filhos. "Daqui a pouco vou buscá-los na escola", comentou. E quando perguntei se ele não se importava em conversar com uma menina mais nova, disse que não. Afirmei que os meninos geralmente não gostam de bater papo com garotas da mesma idade. Adiante, ele foi direto com perguntas que forçariam qualquer criança no mínimo a mentir: "Você já ficou com alguém?" e ainda "Só rolou beijos?" e "Você tem foto?".
Dessa maneira, seguiram-se muitas investidas e afagos em um diálogo totalmente impróprio para uma criança ou adolescente. A impressão é que passar-se por um pai carinhoso ou um homem gentil, é uma forma de deixar a criança segura e valorizada. E partir para o ataque que, para os mais ousados, significa tentar um encontro com a futura vítima de pedofilia.
Postado por Ana Paula