Experiência bem-sucedida em BH, Rede de Vizinhos Protegidos se estende pelo interior, em uma tentativa da população de barrar o crescimento da criminalidade.
Cidades pacatas, típicas do interior e
livres do pesadelo da violência se tornaram meras lembranças de um tempo que
insiste em não voltar. Problemas característicos de grandes centros estão cada
vez mais presentes em municípios de médio e pequeno porte. Se antes deixar o
portão aberto e passear com tranquilidade pelas ruas era uma cena do dia a dia,
agora, investir em sistemas de segurança, como cercas elétricas e câmeras de
vigilância, virou rotina. Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds)
mostram que os crimes violentos estão concentrados na Região Metropolitana de
Belo Horizonte, no Triângulo Mineiro, no Noroeste do estado e em municípios
como Governador Valadares (Vale do Rio Doce), Montes Claros e Pirapora (Norte
de Minas). Para conter o avanço da criminalidade, ganha força uma experiência
de sucesso na capital: a Rede de Vizinhos Protegidos. Os moradores do interior
estão trocando a cadeira na porta da rua por apitos e muita atenção.
A fórmula é simples: diante de
qualquer atitude suspeita, basta soprar o apito. Esse é o instrumento que os
vizinhos têm para informar uns aos outros de que algo não vai bem. O som de um
é seguido por vários ao mesmo tempo. E, imediatamente, a Polícia Militar é
chamada para conferir se a suspeita tem fundamento. A PM ainda não sabe quantos
municípios já aderiram à rede, mas garante que ela está em expansão. Qualquer
uma das 853 cidades mineiras pode participar. Para isso, basta que a comunidade
procure o batalhão mais próximo. O assessor de imprensa da PM em Minas, capitão
Gedir Rocha, diz que a tendência de redução da criminalidade é de 30% a 40%.
“Se você começa a apitar avisando que há um estranho, gasta dinheiro? Não,
gasta solidariedade, preocupação, zelo e amizade.”
Segundo ele, vários fatores contribuem
hoje para a expansão da criminalidade para o eixo fora dos grandes centros
urbanos. “Muitas cidades do interior não são interior, com grandes obras,
muitas universidades e empresas chegando. Em municípios onde as pessoas se
conheciam e se comunicavam, o crescimento está encerrando essas relações. Além
disso, há a impunidade na qual as pessoas acreditam e o avanço do crack. Até
mesmo a tradição de família, a responsabilidade em saber onde o filho está, com
quem ele anda e se ele está na escola ou não acabou”, afirma o capitão. “ A
rede dá certo porque a ideia é a retomada da sociedade do espaço que é seu, com
a aglomeração de pessoas que querem a mesma coisa: rua limpa, prédios e casas
que não sejam pichadas, ruas iluminadas, árvores podadas. E disso a sociedade
toma conta”, acrescenta.
Ipatinga (Vale do Aço), Viçosa (na
Zona da Mata), Conselheiro Lafaiete, Itabira, João Monlevade e Ouro Preto
(Região Central) são exemplos de como a Rede de Vizinhos Protegidos está dando
certo. Na cidade histórica, a comunidade do Morro São Sebastião procurou a PM
em julho de 2010 por causa de uma série de arrombamentos. Segundo os militares,
desde a implantação do projeto, já houve redução de índices de furtos e
arrombamentos no bairro.
Primeiros
frutos
Em Itabira, a 100 quilômetros de BH, o
programa implantado no início do ano no Bairro 14 de Fevereiro também já colhe
os primeiros frutos, com a redução de 36% dos crimes contra o patrimônio de
janeiro a agosto, na comparação com o mesmo período de 2010. De 22 casos,
passou-se para oito. Em 2008 e 2009, foram 17 e 21, respectivamente, também nos
oito primeiros meses de cada ano. Em toda a cidade, cuja população é de
aproximadamente 110 mil habitantes, foram registrados 287 arrombamentos a casas
em 2007; 357 em 2008; 263 em 2009; 360 em 2010 e 231 em 2011. O número de
homicídios, que chegou a 13 nos oito primeiros meses de 2007, está em sete este
ano.
“A queda nos números demonstra que a
rede é uma boa ferramenta no sentido de prevenção, mas só funciona onde há
mobilização comunitária. A polícia não está transferindo responsabilidades, mas
é importante que a população entenda seu papel no programa, pois ele não é uma
brincadeira e deve ser levado muito seriamente”, afirma o comandante do 26º
Batalhão, tenente-coronel Edvanio Rosa Carneiro, de Itabira. Ele ressalta que a
rede é apenas uma das estratégias de prevenção, entre várias outras.
O operador de equipamentos Nilson
Pereira Cunha, de 42 anos, um dos articuladores da implantação do programa no
14 de Fevereiro, comemora os resultados. “A maioria dos nossos moradores é de
aposentados e o bairro está na entrada da cidade, o que traz um grande fluxo de
pessoas. O marginal pode ser analfabeto, mas vai reconhecer a placa da PM nos
portões. Ele pensará que só mora polícia ou que a PM está aqui. Ficará receoso
e vai procurar outra área”, diz.
Fonte: Portal Jornal Estado de Minas - http://www.em.com.br
Postagem: Ana Paula
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